18 de abril de 2011

Festa reforça urgência da certificação da Queijada da Pereira

Têm sete bicos, são confeccionadas manualmente, num forno de lenha e hoje prometem adocicar a boca dos visitantes e residentes da Vila de Pereira, na XVII Festa da Queijada, inaugurada ontem, no Celeiro dos Duques de Aveiro, num dia em que a “qualificação” foi a palavra de ordem.

Pelo 17.o ano, o certame invadiu aquela freguesia de Montemor-o-Velho, desta vez com uma novidade, um colóquio, que pretendeu, por um lado, dar a conhecer aspectos históricos do doce conventual que consubstancia um segredo bem guardado há cinco séculos e, por outro, sensibilizar os produtores para a urgência da certificação.

«Se os produtos tradicionais não forem identificados, descritos e qualificados, ou desaparecem ou sofrem abusos», anunciou Ana Soeiro, secretaria-geral da Qualifica, que falou no colóquio, precisamente sobre a qualificação deste produto que, declarou, já integra «o primeiro guia de compras de produtos certificados em Portugal», editado recentemente. 

«Se não registarem a marca, qualquer dia aparece aí alguém de Sacavém a fazer uma coisa a que chamam de Queijada de Pereira e o consumidor que alguma vez coma aquelas porcarias, não volta a comprar», declarou Ana Soeiro alertando que actualmente «tudo quanto é tradicional está a perder tipicidade e carácter distintivo». Por outro lado, a certificação permitirá, garantiu a responsável da Qualifica, «valorizar as queijadas e ganhar novos mercados», bem como garantir aos consumidores «a verdadeira origem do produto e a qualidade». A dificuldade, acusou a engenheira, reside na elevada burocratização do processo. «Em Portugal temos exigências legais para além do necessário», frisou a responsável, esclarecendo que dos dossiers enviados para o Ministério da Agricultura, para certificação, «poucos são os que avançam». 

Para a certificação da queijada de Pereira já foram dados alguns passos. De acordo com Eduardo Figo Roxo, presidente do Grupo Folclórico da Vila de Pereira, organizador da festa, o processo está já «numa fase adiantada», estando os produtores a reunir para chegar a um consenso. «Os produtores estão a aderir e eles mais do que ninguém têm todo o interesse em certificar a queijada», referiu o presidente do Grupo Folclórico de Pereira, sublinhando que «é bom que os produtores se reúnam, formem uma associação e que a queijada de Pereira seja certificada». 


Festa continua hoje

A fechar as comunicações, que contaram ainda com Pedro Machado, presidente da Turismo do Centro, e o historiador Reis Torgal, esteve uma homenagem a 
D. Maria Melo, a mais antiga fabricante de queijadas em Pereira que, do alto dos seus 98 anos, brindou os presentes com um momento de boa disposição, recordando a tradição passada de geração em geração de confeccionar queijadas. «Todas as queijadas em Pereira são feitas por raparigas que estiveram na minha casa», anunciou a residente mais idosa de Pereira, recordando como se faziam com o «queijo fresquinho» e confessando que ainda hoje confecciona doces em casa das noras.

A tarde prosseguiu com as comemorações do 45.o aniversário do Grupo Folclórico da Vila de Pereira, tendo o “Rock in Queijada” continuado a animação, com um concerto da banda Rewind.

Hoje a festa continua com a garantia de que as queijadas não faltarão à mesa dos visitantes e residentes. Para os que ainda não tiveram oportunidade de saborear o petisco, podem não só fazê-lo, como ver fazer. A Festa da Queijada abre às 9h00, com visitas guiadas à Rota da Queijada, e um workshop reservado para as 14h00. Além do certame, decorre hoje a feira mensal da vila, duplicando a agitação na freguesia.



“Rota da Queijada promove dois em um”

Outro dos expoentes do arranque do certame foi a apresentação da Rota da Queijada, a cargo de Sandra Lopes, uma inovação que pretende promover não só o doce conventual que já D. Manuel I elogiava, em 1514, mas também o património cultural da vila. Um percurso que se desenvolve «em pleno centro histórico», tendo como ponto de partida a Igreja Matriz de São Sebastião, e passagem pela Igreja da Misericórdia e pelo Real Colégio das Ursulinas, que foi o ponto de partida para a comercialização do doce. Saindo dali, anunciou Sandra Lopes, «o visitante pode procurar as deliciosas queijadas», num dos quatro espaços de referência da confecção, ali espalhados: Manjar do Tojal, Conventual, Maria de Lurdes Oliveira e Queijadinha. Locais onde hoje, ao longo do dia, é possível não só provar a iguaria como também assistir à sua confecção.


In site "Diário de Coimbra" de 17/04/2011