18 de maio de 2011

Casas novas: caras e sem conforto térmico

A DECO/PRO TESTE inspeccionou 34 apartamentos novos e mais de um terço não oferece condições de conforto. Equipamentos de climatização mal instalados, janelas demasiado simples e mau uso da orientação solar são alguns dos principais problemas. “Culpados: projectistas e construtores desinteressados, fiscalização das câmaras municipais ineficaz e uma lei com muitas fugas”, denuncia a DECO/PRO TESTE.

Para avaliar o isolamento térmico, em Junho último, a DECO/PRO TESTE inspeccionou várias casas em Lisboa e no Porto. Em geral, estas têm um bom desempenho térmico. Mas, num terço, o conforto é insatisfatório. Duas casas não cumpriam o regulamento para o Verão e outras duas para o Inverno. Ou seja, para atingir um certo nível de conforto, implicam um consumo de energia superior ao admissível para, respectivamente, arrefecer e aquecer a casa. Segundo aquela revista, “a licença de construção nunca deveria ter sido emitida”. Ao ter em conta as necessidades de arrefecimento, na maioria das restantes casas, o valor está muito abaixo do máximo admissível. Mas como este valor está sobredimensionado, é fácil cumprir a lei. Mesmo assim, a PRO TESTE encontrou casas que cumprem o regulamento, mas não construídas numa perspectiva de poupar energia.

Para verificar se os materiais de isolamento foram bem aplicados, a DECO/PRO TESTE realizou um teste com uma câmara de infra-vermelhos, usando uma técnica denominada termografia, em cinco casas. Foram detectados defeitos em todas, sobretudo nas zonas de contacto entre as paredes e o tecto. Nas fachadas exteriores, em duas casas, até se consegue observar o contorno dos tijolos. A espessura do reboco era demasiado fina e os pisos térreos não tinham resistência contra infiltrações. Numa casa, foi detectada humidade na parede da cozinha que se propaga ao tecto, prolongando-se para a sala de estar. Tal indica que os materiais de isolamento térmico foram aplicados sem continuidade. Dada a extensão da área com problemas, numa casa até pode nem existir isolamento.

Num terço das casas, foram encontrados aparelhos que só servem para aquecer uma divisão. Em três casas, apenas existia uma lareira sem recuperador de calor. Os construtores falharam, sobretudo, na instalação. Em metade das casas, os resultados foram negativos. No pior caso, a unidade exterior do ar condicionado foi instalada na lavandaria.

A maioria das casas apresentou janelas bem isoladas. Apenas em três, as folgas entre a janela e a calha eram significativas. A DECO/PRO TESTE encontrou também muitas casas com as divisões orientadas de forma inadequada. “Tal revela que os construtores estão mais preocupados em preencher a área do piso, ignorando o conforto, o que obrigaria a construir menos habitações por piso e a aproveitar o espaço de modo mais energeticamente eficiente”.

Dicas para bem escolher
Através de uma visita atenta ao local, pode obter alguns dados sobre o conforto térmico da casa. Veja se as fachadas recebem sombra de outros prédios, elevações do terreno ou vegetação de grande altura.

Ter uma sala grande gelada ou demasiado quente e que vai exigir um elevado consumo de energia é pouco agradável. O ideal é que divisões, como a sala, tenham uma orientação a Sul e elementos de sombreamento adequados (estores e toldos, por exemplo). Para os quartos, uma orientação a Este torna-se mais favorável.

Ao nível dos equipamentos de climatização, verifique o tamanho dos radiadores do aquecimento central. Se a divisão for grande e tiver um radiador pequeno, dificilmente conseguirá aquecer a divisão. Por sua vez, um radiador grande é desadequado numa cozinha, já que é uma divisão com muitas fontes de calor (fogão, forno, iluminação, etc.).

Consumidores exigem
"Em Portugal, o conforto térmico ainda não é uma prioridade dos construtores. Está nas mãos do Governo, das câmaras municipais, dos projectistas e construtores alterar este cenário”, acusa a DECO/PRO TESTE.

O actual regulamento contém demasiadas fugas e está a ser revisto desde de 2002, com o objectivo de eliminar as incorrecções. A lei é pouco exigente, permite licenciar edifícios sem a prova concreta de que cumprem as regras mínimas de conforto e não obriga à execução de auditorias. A nova redacção aguarda aprovação do Governo, pelo que o processo poderá sofrer atrasos, sobretudo porque vamos a eleições. É esperada uma interligação entre o regulamento e a futura certificação energética de edifícios. Portugal tem de implementar a Directiva Europeia até Janeiro de 2006, mas já se fala em adiar a certificação para 2008. O certificado será obrigatório para os novos edifícios e todos os que sofram reabilitações importantes.

Uma boa solução é apostar na arquitectura bioclimática. Esta consiste em projectar e construir um edifício tendo em conta as características ambientais do local onde se insere, ou seja, utilizando o desenho e os elementos arquitectónicos, para optimizar o conforto ambiental.

Quanto ao consumidor, convém estar atento na hora de escolher e valorizar mais o conforto térmico. No futuro, este será bem mais importante para a sua carteira do que outros aspectos tão anunciados pelos vendedores, como os acabamentos ditos de luxo. A DECO/PRO TESTE lança um último apelo: “Há que acabar de vez com este frio de rachar no Inverno e uma estufa no Verão em casa: temos um país com um clima agradável, mas sofremos mais dentro das nossas casas do que outros povos de países com um clima mais agreste".


In site "Deco"